Pertencemos a lugares distintos. Todos nós. E, quando saímos do nosso lugar para ocupar outro, as pessoas ficam feridas e respondem com fogo. O que é que você está fazendo aqui, sua puta? Você não sabe que seu lugar não é este? Já não te avisei 888 mil vezes que sua esquina não é esta? Ou você está aqui porque é boba e quer sacanear a gente? Pois saiba, então, sua piranhuda do rabo fodido, que aqui é que você não pode ficar. E não podemos ficar sabe por quê? Porque somos pretos, ou magros demais, ou gordos, ou feios, ou até bonitos, ou inteligentes, ou bem ou mal-humorados, ou judeus, ou japas, ou bichas, ou veados, ou sapatões, ou homens, ou mulheres, ou travestis e Aqui neste lugar você não pode ficar porque não sei quem inventou isso de que você não pode ficar aqui e essa pessoa mijou no chão e marcou o território e se você entrar na área proibida leva uma porrada, um tiro. É assim: brigam com a gente, brincam com a gente, fodem a gente, zombam, humilham, pisam em cima, chamam dos nomes todos que inventaram para o capeta, dizem assim Você é preto, sua bicha. Você é gay, seu judeu. Você já se viu no espelho, sua mocinha? Tem que emagrecer senão não passa na roleta, sua sapata. Entendeu agora por que você não pode fazer ponto nesta esquina aqui, sua amapoa?
E dessa maneira seguem as coisas. Comigo, por exemplo, a idéia é de que eu não possa ser alguém inteligente, culta. Mas sou. Sempre fui e lutei para ser. E ser, meu querido, não é fácil. Não existe manual. Ser é quando você pega todas as suas coisas e junta cada uma delas no coração e na cabeça fazendo o que for preciso para que elas continuem ali e aí diz Esta aqui sou eu. Vou repetir: -Esta aqui sou eu e não é fácil, não é mole, a coisa é dura. Parece até aquela do Juá, uma bicha preta amiga minha que aparecia na abertura do Fantástico e cuja ferramenta era de 23 pra cima e quando endurecia pulsava robusta cheia de veias e não amolecia de jeito nenhum, arrasando bocas, bocetas e cus. Uma coisa a rola do Juá, meu Deus! Arrepio até de lembrar. Mas disto depois eu falo que agora não é hora de falar disso, porque o que eu estava dizendo é que a coisa não é mole não, mocinho. E foi porque eu disse que a coisa não era mole não que eu me lembrei da pica preta do Juá, dura como um colosso, portentosa, obreira, macunaímica, boa de brincar. Então que a coisa não é fácil. Nem pro Juá era. Tinha, o coitada, que estar com a ferramenta sempre rija, à disposição. Pra amapoas e araras, para adés e adés fontós, barbies e bibas, bofes e monocós. Não tinha direito, a pobre, de não estar com a rola sempre em pé. Uma máquina de fazer sexo, o Juá. Morreu.
E morreu do óbvio.
8 comentários:
Que interessante! Também estava a filosofar sobre os "lugares"!
você é esquisito...assim dizem algumas pessoas (EM)...eu tb acho, mas acabo por gostar...
estarei em Servidão humana...
Rê
tô ki
me fala quando começam as apresentações
bjos
rê
edmortous, muito bom como sempre, traz suas coisas aqui pra sp gente. o povo aqui adora comprar....
beijo, ana
Ed, tô entrando na lan house só pra terminar de ler esse texto. Cara, quando crescer é assim que eu quero escrever.
Bj
Marido da Bica
uma gargalhada aqui, sábado de manhã.
adorei isso, edmundo.
bj
É....como diz vc "A vida não é fácil"
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