Montagem da Odeon, inspirada em Dante e Guimarães Rosa, faz reflexões sobre doenças da alma
Walter Sebastião
Um sertanejo guiando um médico por lugares que têm qualquer coisa de infernos contemporâneos. É o espetáculo Quando você não está no céu, da Odeon Companhia Teatral, que está sendo apresentado até 28 de maio, no Sede Odeon. Inspirado na Divina comédia, do poeta italiano Dante Alighieri (1261-1321), e no romance Grande sertão: veredas, do escritor brasileiro João Guimarâes Rosa (1908-1967), quer ser uma reflexão sobre doenças, especialmente as da alma, e sobre a perda de valores na sociedade contemporânea. Em cena vão estar antigos e os novos pecados capitais: a luxúria e a gula e também a perda de compaixão e o individualismo.
“Estamos propondo uma reflexão coletiva sobre temas que afetam a todos os seres humanos”, afirma Carlos Gradim, de 38 anos, diretor da montagem. “Queremos que nossos sentimentos vibrem, reverberem e se transformem num momento de consciência necessário a ações de transformação”, acrescenta. Avisa que se trata de montagem “não realista, simbólica e até ritualística”, que dá prosseguimento à pesquisa do grupo sobre uso de espaços não-convencionais. Os atores, por sua vez, trocam “a hiperinterpretação” por exploração das sensações reais dos atores diante de certas situações.“Não temos o inferno dantesco nem o sertão de Guimarães Rosa. Contamos com mistura que leva o homem contemporâneo a não conseguir identificar nem mesmo seu lugar no mundo. Com suas identidades perdidas e partidas, tenta-se saber deste lugar, buscando o conhecimento e empreendendo ações. Mas ações e conhecimento se mostram, desde o início, sem sentido. Talvez porque, também desde o início, nossa dor trágica se resuma no fato de que nunca poderemos realmente saber quem somos e em que lugar estamos”, observa Edmundo Novaes Gomes, autor do texto do espetáculo e aquele que sugeriu levar o escritor mineiro para pesquisa, originalmente, voltada para criação de versão contemporânea do inferno da Divina comédia.
Outras tantas pesquisas, sobre o mito, como conta Carlos Gradim, trouxeram mais um motivo para a peça: a questão da crise dos heróis (“temos poucos heróis no sentido do ser humano que passa pela vida avançando por etapas e, assim, compreendendo o sentido da existência”). Como explica, tudo na peça acontece em lugar árido onde habitam seres atormentados por dúvidas e incertezas. “Na minha opinião, o ser humano teve uma evolução científica e tecnológica enorme, mas, com relação às questões da alma, regrediu. Estamos nos tornando animais”, afirma, criticando vivências autocentradas, a exacerbação da violência e o medo do outro, que passa a ser visto como adversário. “Não estamos, definitivamente, no céu”, garante. A montagem foi selecionada para a programação do Fit/BH, de 2006.
Quando você não está no céu
Espetáculo com a Odeon Companhia Teatral. Sexta e Sábado, às 21h; domingo, às 19h, na Sede Odeon (Rua Tenente Brito Melo, 254, Barro Preto, 31.3295-4264). Até 28 de maio. Ingresso: R$16 (inteira) e R$8 (meia). Classificação: 16 anos
-Portal UAI - 31 de março de 2006
3 comentários:
Vou procurar saber, eu gosto bastante do texto (eu passei ele com um amigo várias vezes - qnd ele fez prova específica pra unirio). Mas bom que meu boy-friend não paga, pq ele não existe o.O (huauhauha). Poxa, uma família de artistas então?
sim, procure por Luísa Costa Zazazaias
amanhã, se os céus quiserem, eu finalmente assito a peça... hehhee
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