“O inferno é mesmo aqui”. É com esta idéia que o espetáculo “Quando você não está no céu”, uma montagem da Odeon Companhia Teatral (leia-se “Ricardo III”, “Amor e restos Humanos”, “O Coordenador” e “A falecida”), parece encarar a contemporaneidade. A exemplo do que acontece com as idéias do sociólogo polonês, naturalizado britânico, Zygmund Bauman, a modernidade, que pode ser quase tocada neste espetáculo escrito por Edmundo de Novaes Gomes, com direção de Carlos Gradim, é algo líquido, cujos limites se evaporam ou se solidificam e que não nos oferece a oportunidade sequer de saber onde estamos e de que matéria somos feitos.
No entanto, se não sabemos onde estamos, o texto de Novaes e a direção de Gradim pelo menos pretendem saber onde não estamos. E, a julgar pela ação mostrada no espetáculo que estréia no próximo 30 de março, no Espaço Odeon de Cultura (Tenente Brito Mello, 254, Barro Preto), nós, definitivamente, não estamos no céu. Mas também não se pode dizer que nos encontremos no inferno. Pelo menos no inferno de Dante, sabidamente um lugar criado a partir de um princípio ortodoxo e autoral de justiça.
A aposta do texto é, quem sabe?, mostrar que nosso lugar é mesmo aqui: um sertão quase roseano, que ajuda a compor cenas das quais participam personagens que povoam o universo desta modernidade líquida da qual Bauman fala. É por isso que podemos encontrar na barca de Caronte um doutor e um capiau que não falam o mesmo dialeto. Eles atravessam o Aqueronte para conhecer aquilo que talvez já tragam dentro de si: um mundo em que as identidades nunca podem ser alcançadas da maneira obcecada que pretende o sujeito contemporâneo.
Neste lugar que não é o céu, vamos encontrar prostitutas que são enterradas junto com o filho morto ao nascer, criaturas que devoram criancinhas, paralíticas que cantam Domenico Modugno, feras que acumulam lixo, santas nuas, drogadictos, suicidas. Assim, o que parece é que Novaes e Gradim colocam todos esses ingredientes num liquidificador para, depois de centrifugar à exaustão, apresentar ao público uma cena líquida. Uma cena que, na cabeça da platéia, tanto pode evaporar como se solidificar.
Em “Quando você não está no céu”, não temos o inferno dantesco nem o sertão de Guimarães Rosa. Contamos com a mistura, a mescla de tudo isso que leva o homem contemporâneo a não conseguir identificar nem mesmo seu lugar no mundo. Com suas identidades perdidas e partidas, ele tenta saber, buscando o conhecimento e empreendendo ações. Mas ações e conhecimento se mostram, desde o início, sem sentido. Talvez porque, também desde o início, nossa dor trágica se resuma no fato de que nunca poderemos realmente saber quem somos e em que lugar estamos.
Quando você não está no céu
-de quinta a domingo, às 21:00 horas
-Espaço Odeon de Cultura – Tenente Brito Mello, 254, Barro Preto
Texto
Edmundo de Novaes Gomes
Direção
Carlos Gradim
Cenário e figurino
André Cortez
Iluminação
Telma Fernandes
Direção musical
Morris Picciotto
Preparação vocal
Babaya
Preparação corporal
Fernanda Vianna
Elenco
Cynthia Paulino, Geraldo Peninha, Marcelo do Vale, Marina Arthuzzi,
Renata Cabral, Rafael Neumayr, Isaque Ribeiro e Domingos Gonzaga
Participação especial
Wilma Henriques
No entanto, se não sabemos onde estamos, o texto de Novaes e a direção de Gradim pelo menos pretendem saber onde não estamos. E, a julgar pela ação mostrada no espetáculo que estréia no próximo 30 de março, no Espaço Odeon de Cultura (Tenente Brito Mello, 254, Barro Preto), nós, definitivamente, não estamos no céu. Mas também não se pode dizer que nos encontremos no inferno. Pelo menos no inferno de Dante, sabidamente um lugar criado a partir de um princípio ortodoxo e autoral de justiça.
A aposta do texto é, quem sabe?, mostrar que nosso lugar é mesmo aqui: um sertão quase roseano, que ajuda a compor cenas das quais participam personagens que povoam o universo desta modernidade líquida da qual Bauman fala. É por isso que podemos encontrar na barca de Caronte um doutor e um capiau que não falam o mesmo dialeto. Eles atravessam o Aqueronte para conhecer aquilo que talvez já tragam dentro de si: um mundo em que as identidades nunca podem ser alcançadas da maneira obcecada que pretende o sujeito contemporâneo.
Neste lugar que não é o céu, vamos encontrar prostitutas que são enterradas junto com o filho morto ao nascer, criaturas que devoram criancinhas, paralíticas que cantam Domenico Modugno, feras que acumulam lixo, santas nuas, drogadictos, suicidas. Assim, o que parece é que Novaes e Gradim colocam todos esses ingredientes num liquidificador para, depois de centrifugar à exaustão, apresentar ao público uma cena líquida. Uma cena que, na cabeça da platéia, tanto pode evaporar como se solidificar.
Em “Quando você não está no céu”, não temos o inferno dantesco nem o sertão de Guimarães Rosa. Contamos com a mistura, a mescla de tudo isso que leva o homem contemporâneo a não conseguir identificar nem mesmo seu lugar no mundo. Com suas identidades perdidas e partidas, ele tenta saber, buscando o conhecimento e empreendendo ações. Mas ações e conhecimento se mostram, desde o início, sem sentido. Talvez porque, também desde o início, nossa dor trágica se resuma no fato de que nunca poderemos realmente saber quem somos e em que lugar estamos.
Quando você não está no céu
-de quinta a domingo, às 21:00 horas
-Espaço Odeon de Cultura – Tenente Brito Mello, 254, Barro Preto
Texto
Edmundo de Novaes Gomes
Direção
Carlos Gradim
Cenário e figurino
André Cortez
Iluminação
Telma Fernandes
Direção musical
Morris Picciotto
Preparação vocal
Babaya
Preparação corporal
Fernanda Vianna
Elenco
Cynthia Paulino, Geraldo Peninha, Marcelo do Vale, Marina Arthuzzi,
Renata Cabral, Rafael Neumayr, Isaque Ribeiro e Domingos Gonzaga
Participação especial
Wilma Henriques
Um comentário:
ah, não pude ir na estréia, mas semana q vem eu tenho q ir... sério mesmo, faz tempo q uma peça não cria tanta expectativa em mim... hehehe
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