Repleto de sensações. Talvez tenha sido essa a impressão que Ulisses experimentou ao encontrar homem a criancinha que deixou ao partir para Tróia. Sensações de absolutamente tudo, talvez: desamparo, poder, alegria, embriaguez. Sensações tão decisivas que seriam capazes de mergulhar em turbilhões a vida de qualquer homem, mesmo sendo esse homem um anĕr.
Assim, a simples vista de Telêmaco deve ter sido suficiente para gerar impressões tremendas. Poder, ao ver que o menino que deixara era já um homem feito, formado para dar ao pai a imortalidade invejada dos deuses. Alegria, no sorriso do filho perfeito e pronto para, ao lado de seu autor efêmero, enfrentar outras muitas guerras. Embriaguez, com os lábios do pai que pousam na testa do filho e sorvem a bebida do amor puro e sem justificativas. Desamparo, ao perceber que ele, Ulisses, ao deixar o filho criança e encontrá-lo já homem, perdera todo esse crescimento, envolvido em guerras terríveis.
Mas Ulisses, nessa mistura de sentimentos, não está sozinho. Suas sensações, é o que parece, são as mesmas que os pais experimentamos ao surpreender, crescido, o sujeito que já foi menino. Também conhecemos a alegria e o poder de sentirmo-nos eternos e acompanhados. A embriaguez de abraçá-lo, de beijá-lo. E o desamparo de nos darmos conta de que perdemos, como quem perde a maior parte da água que se tenta levar à boca com as mãos para saciar uma sede, cada uma das transformações que aconteceram dentro e fora de nossos Telêmacos.
Estive, assim, repleto de sensações, na noite passada. Éramos dois os casais: eu, minha Penélope; meu filho e sua namorada. Ao olhar para a cena que se delineava, o único que consegui perceber naquela mesa de restaurante em que jantávamos os quatro é que as águas são para seguir seu próprio curso. Elas não se deixam segurar mais do que uns poucos instantes pelas mãos que dela querem se apoderar.
Sim, meu Telêmaco estava lá, beijando com um carinho imenso a moça que ia a seu lado. E eu, como Ulisses, dei-me conta de que, embora não fossem Tróias, as guerras que vivi serviram também para me fazer perder a transformação daquele que conheci menino em sujeito de uma história que só podia mesmo ser sua.
É que não adianta estarmos, pais, sempre ao lado de seus filhos, na esperança de que eles sejam nossos. Da mesma maneira que Ulisses, mesmo que tenhamos sido sempre presentes, iremos inexoravelmente perder suas transformações mais íntimas e nos assustar quando Telêmaco se nos deparar homem. Ainda que as guerras sejam leves, os Ulisses teremos deixado escapar por entre os dedos os momentos revolucionários da mudança interior.
Isso porque tais momentos são próprios, de cada um. Não podem pertencer a ninguém senão aos que se transformam, que deixam de ser meninos para se tornar homens. Trata-se de uma vivência pessoal e os que estão de fora, ao tentarem possuí-la com as mãos para matar sua sede, correrão o risco de não se saciar jamais. O máximo que é possível conseguir são algumas gotinhas, suficientes apenas para refrescar os lábios.
E é por isso que meu filho, depois do jantar, segurou a mão de sua namorada e se pôs a caminhar à minha frente. Atrás, eu e minha Penélope íamos também sonhando outras sensações, outros sabores, novas experiências. É só o que eu poderia fazer, uma vez que a criança que me dera seu primeiro choro seguia à minha frente, decidida e por seus próprios pés e vontades. Eu não podia fazer nada, a não ser sonhar.
Sonhar, talvez, outros Telêmacos, sorte de todo Ulisses.
Assim, a simples vista de Telêmaco deve ter sido suficiente para gerar impressões tremendas. Poder, ao ver que o menino que deixara era já um homem feito, formado para dar ao pai a imortalidade invejada dos deuses. Alegria, no sorriso do filho perfeito e pronto para, ao lado de seu autor efêmero, enfrentar outras muitas guerras. Embriaguez, com os lábios do pai que pousam na testa do filho e sorvem a bebida do amor puro e sem justificativas. Desamparo, ao perceber que ele, Ulisses, ao deixar o filho criança e encontrá-lo já homem, perdera todo esse crescimento, envolvido em guerras terríveis.
Mas Ulisses, nessa mistura de sentimentos, não está sozinho. Suas sensações, é o que parece, são as mesmas que os pais experimentamos ao surpreender, crescido, o sujeito que já foi menino. Também conhecemos a alegria e o poder de sentirmo-nos eternos e acompanhados. A embriaguez de abraçá-lo, de beijá-lo. E o desamparo de nos darmos conta de que perdemos, como quem perde a maior parte da água que se tenta levar à boca com as mãos para saciar uma sede, cada uma das transformações que aconteceram dentro e fora de nossos Telêmacos.
Estive, assim, repleto de sensações, na noite passada. Éramos dois os casais: eu, minha Penélope; meu filho e sua namorada. Ao olhar para a cena que se delineava, o único que consegui perceber naquela mesa de restaurante em que jantávamos os quatro é que as águas são para seguir seu próprio curso. Elas não se deixam segurar mais do que uns poucos instantes pelas mãos que dela querem se apoderar.
Sim, meu Telêmaco estava lá, beijando com um carinho imenso a moça que ia a seu lado. E eu, como Ulisses, dei-me conta de que, embora não fossem Tróias, as guerras que vivi serviram também para me fazer perder a transformação daquele que conheci menino em sujeito de uma história que só podia mesmo ser sua.
É que não adianta estarmos, pais, sempre ao lado de seus filhos, na esperança de que eles sejam nossos. Da mesma maneira que Ulisses, mesmo que tenhamos sido sempre presentes, iremos inexoravelmente perder suas transformações mais íntimas e nos assustar quando Telêmaco se nos deparar homem. Ainda que as guerras sejam leves, os Ulisses teremos deixado escapar por entre os dedos os momentos revolucionários da mudança interior.
Isso porque tais momentos são próprios, de cada um. Não podem pertencer a ninguém senão aos que se transformam, que deixam de ser meninos para se tornar homens. Trata-se de uma vivência pessoal e os que estão de fora, ao tentarem possuí-la com as mãos para matar sua sede, correrão o risco de não se saciar jamais. O máximo que é possível conseguir são algumas gotinhas, suficientes apenas para refrescar os lábios.
E é por isso que meu filho, depois do jantar, segurou a mão de sua namorada e se pôs a caminhar à minha frente. Atrás, eu e minha Penélope íamos também sonhando outras sensações, outros sabores, novas experiências. É só o que eu poderia fazer, uma vez que a criança que me dera seu primeiro choro seguia à minha frente, decidida e por seus próprios pés e vontades. Eu não podia fazer nada, a não ser sonhar.
Sonhar, talvez, outros Telêmacos, sorte de todo Ulisses.
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