Há algum tempo, Edmundo de Novaes se dedica ao teatro em Minas Gerais. Foi ele quem adaptou o texto de Noites brancas, a partir de traduções do português e francês do clássico de Dostoievski. A montagem– dirigida por sua irmã Yara e estrelada por Débora Falabella e Luiz Arthur – faz sucesso em todo o País. Jornalista, escritor e professor da PUC Minas, Edmundo foi premiado, recentemente, no 5º Concurso Nacional de Dramaturgia de Porto Alegre. Para ele, falta arrojo a diretores e produtores em Minas: textos de novos autores não são encenados e ninguém quer se arriscar. “Falta acreditar e oferecer oportunidades”, afirma.
Qual a importância do Prêmio Carlos Carvalho que você ganhou, conferido no 5º Concurso Nacional de Dramaturgia de Porto Alegre?
Edmundo de Novaes – Trata-se de um prêmio nacionalmente reconhecido, que chega à quinta edição com nada menos de 249 concorrentes. A importância em estar entre seus vencedores é enorme para mim. Para teatro, já havia feito traduções e adaptações, como a de Noites Brancas, de Dostoievski. Jocasta tirana é, na verdade, meu primeiro texto original adulto. Antes, com The Adamms, havia escrito um texto original infantil, aproveitando apenas as personagens. E é muito legal ganhar um prêmio como este logo assim, de cara, ainda mais com um texto difícil. Outra coisa é o fato de estar recebendo um prêmio em Porto Alegre, pela segunda vez. Em 2003, fui o vencedor do Prêmio Casa de Cultura Mário Quintana, com meu primeiro romance, Falar.
De que trata a peça Jocasta tirana?
EN – No texto, Jocasta é a figura centralizadora e a história se passa no transcurso de uma noite. A última noite entre este casal que – filho e mãe, marido e mulher – teve nada menos que quatro filhos. A última noite dos dois, antes que os cidadãos de Tebas venham bater à porta do palácio, exigindo soluções para a peste que arrasa a cidade. Na verdade, esta noite antecede aquilo que já conhecemos a partir do mito e da tragédia incomparável de Sófocles. Jocasta tirana é uma leitura heterodoxa do mito de Édipo, que busca trabalhar a tragédia a partir da descentralização de alguns de seus pontos determinantes, sem, no entanto, deixar de reconhecer os preceitos definidos por Aristóteles em sua Poética.
Como você vê a dramaturgia feita em Minas Gerais?
EN – Guiomar de Grammont, Rogério Falabella e Sérgio Abritta, além de outros, estão aí para, com o talento que lhes é inerente, representar o teatro escrito em Minas. Recentemente, tive a oportunidade de ter um pequeno texto meu selecionado para o Festival de Cenas Curtas do Grupo Galpão e gostei de algumas coisas que vi. Contudo, creio que ainda falta a produtores e diretores mineiros acreditarem mais em autores não consagrados, novos.
Faltam incentivos para o setor no Estado?
EN – Falta acreditar e oferecer oportunidades, sem deixar de proporcionar qualidade. No que se refere à dramaturgia de uma maneira específica, acredito que ainda se monta muito pouco os autores novos. Não apenas em Minas, mas no País. As últimas peças do Grupo Galpão, o mais conceituado de nosso Estado, são adaptações ou textos já consagrados. Não vejo nada de mais nisso. Eu mesmo fiz a adaptação de Noites brancas e estou escrevendo, junto com a Guiomar de Grammont, a do Inferno, de Dante, para a Odeon Companhia Teatral. Mas acho que as pessoas que fazem teatro com qualidade preferem não arriscar. Será que é porque nossa dramaturgia também não oferece uma qualidade compatível? O próprio Jocasta tirana foi inscrito na lei de incentivo do Estado e do município e não obteve aprovação.
O que poderia ser feito aqui, tendo em vista experiências de outros estados?
EN – Não sei. É difícil falar sobre isso. O próprio Grupo Galpão já faz, com o Festival de Cenas Curtas. Mas ainda acho que Minas anda muito devagar quando o assunto é oferecer oportunidades de participação cultural não apenas para os artistas, mas para a população. Comparando com outros estados e saindo um pouco do teatro, poderíamos citar a Feira do Livro de Porto Alegre e o Salão do Livro de Belo Horizonte. Enquanto os gaúchos fazem a feira numa praça que à noite é freqüentada por prostitutas, aqui fazemos um salão, num local fechado, como se a cultura tivesse que ser enclausurada, para poucos. O mineiro ainda é muito elitista.
O modelo adotado pela Campanha de Popularização do Teatro de BH divide opiniões. Questiona-se a qualidade de muitas peças. Você concorda?
EN – Como já disse, prefiro uma cultura que, pelo menos, busque a utopia da dissidência, do herege. Não morro de amores pelo ortodoxo. Quanto à qualidade, tomando aqui seu sentido de identificação estética, isso é algo que depende de quem vê. Aquilo que é bom para mim pode não ser para você. Sou muito tolerante. Mas é claro que não me passa despercebida a quantidade de montagens meramente reprodutivas e sem reflexão estética encenadas durante a campanha.
- jornal Estado de Minas, caderno Pensar, 2 de abril de 2005
Qual a importância do Prêmio Carlos Carvalho que você ganhou, conferido no 5º Concurso Nacional de Dramaturgia de Porto Alegre?
Edmundo de Novaes – Trata-se de um prêmio nacionalmente reconhecido, que chega à quinta edição com nada menos de 249 concorrentes. A importância em estar entre seus vencedores é enorme para mim. Para teatro, já havia feito traduções e adaptações, como a de Noites Brancas, de Dostoievski. Jocasta tirana é, na verdade, meu primeiro texto original adulto. Antes, com The Adamms, havia escrito um texto original infantil, aproveitando apenas as personagens. E é muito legal ganhar um prêmio como este logo assim, de cara, ainda mais com um texto difícil. Outra coisa é o fato de estar recebendo um prêmio em Porto Alegre, pela segunda vez. Em 2003, fui o vencedor do Prêmio Casa de Cultura Mário Quintana, com meu primeiro romance, Falar.
De que trata a peça Jocasta tirana?
EN – No texto, Jocasta é a figura centralizadora e a história se passa no transcurso de uma noite. A última noite entre este casal que – filho e mãe, marido e mulher – teve nada menos que quatro filhos. A última noite dos dois, antes que os cidadãos de Tebas venham bater à porta do palácio, exigindo soluções para a peste que arrasa a cidade. Na verdade, esta noite antecede aquilo que já conhecemos a partir do mito e da tragédia incomparável de Sófocles. Jocasta tirana é uma leitura heterodoxa do mito de Édipo, que busca trabalhar a tragédia a partir da descentralização de alguns de seus pontos determinantes, sem, no entanto, deixar de reconhecer os preceitos definidos por Aristóteles em sua Poética.
Como você vê a dramaturgia feita em Minas Gerais?
EN – Guiomar de Grammont, Rogério Falabella e Sérgio Abritta, além de outros, estão aí para, com o talento que lhes é inerente, representar o teatro escrito em Minas. Recentemente, tive a oportunidade de ter um pequeno texto meu selecionado para o Festival de Cenas Curtas do Grupo Galpão e gostei de algumas coisas que vi. Contudo, creio que ainda falta a produtores e diretores mineiros acreditarem mais em autores não consagrados, novos.
Faltam incentivos para o setor no Estado?
EN – Falta acreditar e oferecer oportunidades, sem deixar de proporcionar qualidade. No que se refere à dramaturgia de uma maneira específica, acredito que ainda se monta muito pouco os autores novos. Não apenas em Minas, mas no País. As últimas peças do Grupo Galpão, o mais conceituado de nosso Estado, são adaptações ou textos já consagrados. Não vejo nada de mais nisso. Eu mesmo fiz a adaptação de Noites brancas e estou escrevendo, junto com a Guiomar de Grammont, a do Inferno, de Dante, para a Odeon Companhia Teatral. Mas acho que as pessoas que fazem teatro com qualidade preferem não arriscar. Será que é porque nossa dramaturgia também não oferece uma qualidade compatível? O próprio Jocasta tirana foi inscrito na lei de incentivo do Estado e do município e não obteve aprovação.
O que poderia ser feito aqui, tendo em vista experiências de outros estados?
EN – Não sei. É difícil falar sobre isso. O próprio Grupo Galpão já faz, com o Festival de Cenas Curtas. Mas ainda acho que Minas anda muito devagar quando o assunto é oferecer oportunidades de participação cultural não apenas para os artistas, mas para a população. Comparando com outros estados e saindo um pouco do teatro, poderíamos citar a Feira do Livro de Porto Alegre e o Salão do Livro de Belo Horizonte. Enquanto os gaúchos fazem a feira numa praça que à noite é freqüentada por prostitutas, aqui fazemos um salão, num local fechado, como se a cultura tivesse que ser enclausurada, para poucos. O mineiro ainda é muito elitista.
O modelo adotado pela Campanha de Popularização do Teatro de BH divide opiniões. Questiona-se a qualidade de muitas peças. Você concorda?
EN – Como já disse, prefiro uma cultura que, pelo menos, busque a utopia da dissidência, do herege. Não morro de amores pelo ortodoxo. Quanto à qualidade, tomando aqui seu sentido de identificação estética, isso é algo que depende de quem vê. Aquilo que é bom para mim pode não ser para você. Sou muito tolerante. Mas é claro que não me passa despercebida a quantidade de montagens meramente reprodutivas e sem reflexão estética encenadas durante a campanha.
- jornal Estado de Minas, caderno Pensar, 2 de abril de 2005
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