Muito. Muito feliz mesmo, minha linda Frufru. Mas não é por isso que você está achando não, pimpolha. Imagina só se eu ia ficar neste antecéu todo só porque te vi passando hoje no meio da rua, com seu vestidinho rendado. Não é nada disso. Minha alegria eu não posso explicar. Mesmo porque, você já sabe!, ela nem é assim tão duradoura. Minha ciclotimia não é mais segredo pra você. Então, deves imaginar que eu sou mais ou menos como minha escrita: promiscuidade de pessoas do discurso, paraíso e inferno, ternura e dureza, afoiteza e timidez. Uma ansiedade tremenda, que eu nem sei como lhe contar, minha Frufru.
Mas, no caso, o único que posso fazer é confessar: fiquei mesmo perene. Por um instante, meus olhos se congelaram. As pupilas se dilataram e os olhos inteiros foram congelados. Sabe? Aquele buraco negro imenso aberto, conduzindo a um infinito de dimensões inalcançáveis, que talvez não possa nem mesmo ser preenchido. De maneira que aqui estou eu, Frufru. E o que passa por minhas retinas traz uma imagem embaçada, nublada, cansada. Neblina pura. Já viu uma coisa dessas?
Talvez você possa pensar que são devaneios o que vivo. Mas não são. Acredito que não. Sua imagem no toucador me parece tão real. Passando um batonzinho nos lábios. Mirando-se no espelho. E os pernocões, hein, Frufru? Talvez você seja mesmo um mito. Linguagem. Linguagem que tem lugar em um nível muito elevado, e onde o sentido chega, se me é lícito dizer, a decolar do fundamento lingüístico sobre o qual começou rolando. Risos.
E este mito, Frufru, não se preocupe, eu estou sempre esvaziando. Despejando para tornar a encher. Sabe por que, minha linda? Talvez porque, a mim, o seu mito me pareça muito primitivo. Desses de primeira geração. Como se você fosse um mar, Frufru. Um oceano inteiro. E cada vez que eu terminasse de te esvaziar pra encher minha piscininha eu também percebesse que você tornou a se encher de novo, com a inundação acontecendo de maneira alucinante e impenetrável, devastadora.
Não é mesmo assustador? Você passando ali, do outro lado da rua, andando imprecavida. Rebolante. Que susto que eu tomei! Parei com meus olhos moídos e esperei pra ver se você ia fazer alguma coisa de imprevisto. Sei lá. Algo tipo dançar, sair cantando, gritar. Mas você não fez nada. Continuou seu caminho. Foi por isso que eu fiquei mais feliz, confesso. É que como você não parou e fez extravagâncias, eu dei conta de perceber que seu caminho era humano, como o meu, e devia estar te conduzindo talvez para o trabalho ou, quem sabe, pra frente do seu toucador. Pra frente dessa sua mesinha em que você tem o mundo à sua disposição e pode se transformar nas Helenas mais belas, seduzindo, com esse seu rebolar cultural, uma parte da humanidade que não consegue colocar a prudência em primeiro plano.
Sim, Frufru. É verdade. Eu não fui precatado. Me deixei levar. Me deixei e me deixarei caminhar sempre por esse paradoxo que você é: brisa e furacão, tristeza e alegria, riso e choro, dia e noite, súdita e rainha, silêncio e explosão, velhice e juventude. Essa coisa louca que é você em frente ao toucador. Por isso, minha pimpolha, vou ficar aqui sentadinho, quase morto, esperando. Aguardando o memento de você deixar esse seu espelho um minutinho só e vir se olhar em outro. Neste espelho das minhas pupilas cansadas, quentes e congeladas, dilatadas. Pode parecer doideira, Frufru. Mas quero sim. Quero muito me enxergar em você.
Um beijo.
PS: depois te falo aquilo.
Mas, no caso, o único que posso fazer é confessar: fiquei mesmo perene. Por um instante, meus olhos se congelaram. As pupilas se dilataram e os olhos inteiros foram congelados. Sabe? Aquele buraco negro imenso aberto, conduzindo a um infinito de dimensões inalcançáveis, que talvez não possa nem mesmo ser preenchido. De maneira que aqui estou eu, Frufru. E o que passa por minhas retinas traz uma imagem embaçada, nublada, cansada. Neblina pura. Já viu uma coisa dessas?
Talvez você possa pensar que são devaneios o que vivo. Mas não são. Acredito que não. Sua imagem no toucador me parece tão real. Passando um batonzinho nos lábios. Mirando-se no espelho. E os pernocões, hein, Frufru? Talvez você seja mesmo um mito. Linguagem. Linguagem que tem lugar em um nível muito elevado, e onde o sentido chega, se me é lícito dizer, a decolar do fundamento lingüístico sobre o qual começou rolando. Risos.
E este mito, Frufru, não se preocupe, eu estou sempre esvaziando. Despejando para tornar a encher. Sabe por que, minha linda? Talvez porque, a mim, o seu mito me pareça muito primitivo. Desses de primeira geração. Como se você fosse um mar, Frufru. Um oceano inteiro. E cada vez que eu terminasse de te esvaziar pra encher minha piscininha eu também percebesse que você tornou a se encher de novo, com a inundação acontecendo de maneira alucinante e impenetrável, devastadora.
Não é mesmo assustador? Você passando ali, do outro lado da rua, andando imprecavida. Rebolante. Que susto que eu tomei! Parei com meus olhos moídos e esperei pra ver se você ia fazer alguma coisa de imprevisto. Sei lá. Algo tipo dançar, sair cantando, gritar. Mas você não fez nada. Continuou seu caminho. Foi por isso que eu fiquei mais feliz, confesso. É que como você não parou e fez extravagâncias, eu dei conta de perceber que seu caminho era humano, como o meu, e devia estar te conduzindo talvez para o trabalho ou, quem sabe, pra frente do seu toucador. Pra frente dessa sua mesinha em que você tem o mundo à sua disposição e pode se transformar nas Helenas mais belas, seduzindo, com esse seu rebolar cultural, uma parte da humanidade que não consegue colocar a prudência em primeiro plano.
Sim, Frufru. É verdade. Eu não fui precatado. Me deixei levar. Me deixei e me deixarei caminhar sempre por esse paradoxo que você é: brisa e furacão, tristeza e alegria, riso e choro, dia e noite, súdita e rainha, silêncio e explosão, velhice e juventude. Essa coisa louca que é você em frente ao toucador. Por isso, minha pimpolha, vou ficar aqui sentadinho, quase morto, esperando. Aguardando o memento de você deixar esse seu espelho um minutinho só e vir se olhar em outro. Neste espelho das minhas pupilas cansadas, quentes e congeladas, dilatadas. Pode parecer doideira, Frufru. Mas quero sim. Quero muito me enxergar em você.
Um beijo.
PS: depois te falo aquilo.
4 comentários:
Nem tenho o que dizer. Eu juro que tento, juro que me esforço! Leio, releio e quando chego ao final de mais uma leitura, não consigo. Desculpa! Ora, mas a culpa é sua de me deixar assim atônita! Espero que algum dia as palavras não me sejam mais falíveis e faltosas como estão agora.
Que turbilhão, heim frufru? Gosto das suas palavras quando elas não estão em momentos de pura afiação.
Bom, bom... bem bom
Ei, eu não sou uma pessoa má!
Quem disse isso, Frufru? Mato quem for.
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